Duas experiências me marcaram na adolescência, responsáveis pela minha admiração pelas motos BMW, ambas na década de 60. A R60 de um amigo de meu irmão e o Jô Soares que vi umas duas vezes pilotando sua R75/5 branca. Duas imagens que até hoje guardo na cabeça.
Acabei comprando minha primeira BMW em 1975, uma maravilhosa R90S, ainda na caixa, que conservo até hoje.
Junto com a moto ganhei um amigo, Daniel Omar Basconcello, o Daniel Ché, que na época era um garoto recém chegado da Argentina e já responsável pela manutenção das motos BMW. Frequentávamos a oficina do Daniel em seus diversos endereços e lá conheci o George Hart e sua linda R60/5 branca. Chegamos a fazer alguns passeios juntos, George sempre um cavalheiro, pilotando a moto que, mais tarde, soube que se chamava Twiggy. Pronto: três imagens agora, a R60 preta do amigo de meu irmão, a R75/5 do Jô Soares e a R60/5 do George Hart, a Twiggy.
Décadas se passaram e há mais ou menos dois anos resolvi dar uma mão a dois sobrinhos que buscavam um R90S e contatei um colecionador amigo do Rio que estava vendendo algumas motos de sua linda coleção. A R90S não deu certo mas havia uma linda R75/5 branca. Apaixonei-me na hora e resolvi realizar o sonho de ter uma /5 branca em homenagem àquelas lembranças minhas.
Fui buscar a moto no Rio e vim pilotando até Ilhabela, onde moro, e depois a levei ao Daniel Ché para uma série de restauros/atualizações pois a moto estava parada há muitos anos.
Soube então que Fabiano, amigo e fã das clássicas, havia adquirido na mesmíssima época uma R60/5 branca em excelentes condições. E aí veio a primeira coincidência: a moto que Fabiano comprou era justamente a Twiggy, comprada das filhas do George que, infelizmente, falecera alguns anos antes. E hoje tenho o privilégio de admirar sempre a Twiggy e vê-la em ação nos passeios que fazemos. A história da Twiggy pode ser vista aqui http://www.motosclassicas70.com.br/minha_bmw_r60.htm e abaixo uma foto do saudoso George e a Twiggy.
Sempre que posso, busco um pouco o histórico das motos clássicas e comecei a fuçar a história da minha R75/5 branca, que batizei de Germana. Consegui o telefone da pessoa que vendeu a Germana ao colecionador do Rio, um simpático cirurgião do interior de São Paulo, que tinha a ficha completa da moto e a informação mais importante: a Germana nada mais é do que a moto do Jô Soares, que fora vendida a outro senhor do interior de São Paulo, que faleceu, ficou abandonada algum tempo, e foi vendida pelos filhos a este cirurgião. Mais uma coincidência então: aquela mesma moto que povoara meus sonhos de adolescente agora estava comigo, e passeando com a Twiggy, outro ícone meu.
Mas as coincidências não param aí. Um dia, na oficina do Daniel Ché, que também tem uma linda R75/5, vermelha, que volta e meia vai a Buenos Aires, começamos a comparar as motos e mais uma coincidência: o número de série da Germana é 2984301 e o da moto do Daniel é 2984300!! Ou seja, depois de todos esses anos, as duas irmãs gêmeas, com a diferença de *1* entre os números de série, voltam a se encontrar. Daniel se lembrou de um lote de BMWs que chegou no início da década de 70 e que ficaram detidas por alguns anos. Provavelmente nossas motos pertenciam a esse lote. Resolvemos fuçar e mais coincidências apareceram:
. Daniel Ché 2984300
. Germana 2984301
. sobrinho 2984315
. amigo do RJ 2984316
De acordo com os arquivos da BMW Motorrad todas essas motos foram fabricadas em outubro de 1971. Assim como a Twiggy!! (a R60/5 segue numeração diferente).
Para quem é apaixonado por essas lindas máquinas, segue abaixo um resumo do que conseguimos descobrir sobre as diferentes versões da R75/5 (correções e adições são bem vindas):
modelo 69 (SWB – short wheel base):
. banco com capa lisa e duas barras de metal, uma em cada lado
. não há protetores de bateria
. tubos de tomada de ar e mangueiras cinza
. luz indicadora do pisca amarela
. tanque grande
modelo 72 (SWB):
. banco com estrias tipo flute e uma só barra de metal; placa identificadora do modelo na traseira do banco.
. protetores de bateria
. tubos de tomada de ar e mangueiras pretas
. luz indicadora do pisca verde
. em algumas motos, tanque pequeno com duas placas de metal laterais decorativas (toaster); aliás, li que os protetores de bateria foram desenvolvidos para combinar com o tanque.
modelo 73 (LWB – long wheel base)
. alongamento do chassi (parte traseira) para melhorar estabilidade
. acomoda bateria maior (há mais espaço no chassi)
. volta ao tanque grande; esses novos tanques grandes possuem uma concavidade embaixo para acomodar o master cylinder e a parafernália do freio a disco já em preparação para a /6.
Fernando Costa
Muito boa esta história, parabéns! E olha que eu não acredito em coincidências.
abs
Levi
Levi, eu também não acredito em coincidências, pero que las hay, las hay 😉